2 de setembro de 2012

Transição

Foi quando de um dia pro outro tudo mudou. O que tinha valor, passou a não ter e o que não tinha continuou não tendo, mas com uma intensidade maior, praticamente invisível a olho nu. Foi quando os sonhos começaram a se tornar realidade e as coisas começavam a fazer mais sentido. Foi quando a seletividade tomou conta do círculo social, que antes mais parecia um circo social. Foi quando a teoria virou prática e os medos se tornaram coragem. 
Foi de repente que a vida começou a me inspirar novamente.


Nathalia
inspirada à novidade.

16 de junho de 2012

Quarto de Dormir

Um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for. Bem abraçado no lençol da cama vai chorar por nós, pensando no escuro ter ouvido o som da minha voz. Vai acariciar seu próprio corpo e na imaginação fazer de conta que a sua agora é a minha mão, mas eu não vou saber de nada do que você vai sentir... Sozinho no seu quarto de dormir.
No cine-pensamento eu também tento reconstituir as coisas que um dia você disse pra me seduzir. Enquanto na janela espero a chuva que não quer cair, o vento traz o riso seu que sempre me fazia rir. E o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si, até toda memória dessa nossa estória se extinguir. E você nunca vai saber de nada do que eu senti... Sozinha no meu quarto de dormir. 

Nathalia, sozinha no seu quarto de dormir
fazendo das palavras de Arnaldo Antunes as suas. 

17 de abril de 2012

A Impontualidade do Amor

Você está sozinho. Você e a torcida do Flamengo. Em frente a tevê, devora dois pacotes de Doritos enquanto espera o telefone tocar. Bem que podia ser hoje, bem que podia ser agora, um amor novinho em folha. 
Trimmm! É sua mãe, quem mais poderia ser? Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa? 
Agora, por exemplo, que você está de banho tomado e camisa jeans. Agora que você está empregado, lavou o carro e está com grana para um cinema. Agora que você pintou o apartamento, ganhou um porta-retrato e começou a gostar de jazz. Agora que você está com o coração às moscas e morrendo de frio. 
O amor aparece quando menos se espera e de onde menos se imagina. Você passa uma festa inteira hipnotizado por alguém que nem lhe enxerga, e mal repara em outro alguém que só tem olhos pra você. Ou então fica arrasado porque não foi pra praia no final de semana. Toda a sua turma está lá, azarando-se uns aos outros. Sentindo-se um ET perdido na cidade grande, você busca refúgio numa locadora de vídeo, sem prever que ali mesmo, na locadora, irá encontrar a pessoa que dará sentido a sua vida. O amor é que nem tesourinha de unhas, nunca está onde a gente pensa. 
O jeito é direcionar o radar para norte, sul, leste e oeste. Seu amor pode estar no corredor de um supermercado, pode estar impaciente na fila de um banco, pode estar pechinchando numa livraria, pode estar cantarolando sozinho dentro de um carro. Pode estar aqui mesmo, no computador, dando o maior mole. O amor está em todos os lugares, você que não procura direito. 
A primeira lição está dada: o amor é onipresente. Agora a segunda: mas é imprevisível. Jamais espere ouvir "eu te amo" num jantar à luz de velas, no dia dos namorados. Ou receber flores logo após a primeira transa. O amor odeia clichês. Você vai ouvir "eu te amo" numa terça-feira, às quatro da tarde, depois de uma discussão, e as flores vão chegar no dia que você tirar carteira de motorista, depois de aprovado no teste de baliza. Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.

Nathalia
por Martha Medeiros
esperando o amor surpreendê-la. 

18 de março de 2012

Sempre Assim

Por mim, eu ficaria sempre assim... Curtindo um som no meu "radim".
Por mim, eu ficaria sempre assim... Lendo um livro sentada no jardim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Assistindo um filme, tomando um chá de alecrim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Conversando com minha mãe numa tarde de domingo, acompanhadas de muito pudim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Sentada com meus amigos, bebendo e rindo de qualquer coisa num botequim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Observando as coisas, timtim por timtim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Na minha e quietinha, evitando qualquer coisa ruim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Com você pertinho de mim, só mais um bucadim. 
Por mim, eu ficaria sempre assim... Pensando, relutando, considerando. Esperando um fim. 


Nathalia
esperando um dia ficar sempre assim. 

13 de fevereiro de 2012

Luminárias e porta-retratos.

Sob a luz de uma luminária, um acústico ao fundo e um porta-retrato com sua foto ao lado fico pensando as mais improváveis situações que poderíamos ter usufruido. 
Sinto falta das tardes no parque que não existiram e dos filmes que assisti com sua presença inventada. Guardo com cautela em meus pensamentos aquele jantar à luz de velas plagiando um filme qualquer ou até mesmo aquele diálogo meloso brindado com uma taça de vinho. 
Faço os planos de nossa casa, nossos filhos e nossos bichos de estimação. Te imagino sorrindo com o pôr-do-sol ao fundo e com a brisa bagunçando seu cabelo. Nos imagino na frente do espelho, desvendando os mistérios do presente, passado e futuro que passamos, juntos. 
Faço versos e rimas na espera. Olho novamente para o porta-retrato e sei que você está ali. Não importa como, mas está. 
Seja ali ou aqui, dentro de mim onde prefiro te levar. No meu porta-retrato vivo, ilusório e paciente. 


Nathalia
sob a luz de uma luminária. 

26 de janeiro de 2012

É sempre amor.

"Ela vai mudar, vai gostar de coisas que ele nunca imaginou. Ela vai se pegar saindo para dançar jazz com os amigos qualquer noite dessas, depois de três anos evitando a boemia, indo a um barzinho com as meninas tomar chopp e comer polenta frita, ela, que não gostava de cerveja, ela, que se embrulhava toda só de ver fritura. E vai se olhar no espelho e se achar mais magra e mais bonita, consequentemente mais vaidosa e vai começar a usar maquiagem; sim, ela que nem passava corretivo vai aprender até a usar blush. E vai querer usar mini saia e salto alto, ela que odiava as pernas; e vai querer fazer corrida todas as manhãs para manter a forma, ela sim, que tinha preguiça de exercícios e odiava levantar cedo. Mas espera que ele ligue a qualquer hora, para conversar, perguntar se é tarde pra ligar, dizer que pensou nela, estava com saudade. 
Ela vai mandar mensagem no meio de uma tarde, pra dizer que lembrou dele quando assistiu Chaves, ou mandar um e-mail lembrando quando é dia 22. E ele vai ligar no meio da noite, dizendo que o Supla está no programa do Ronnie Von, eles vão rir juntos e silenciosamente, vão sentir cada um no seu canto, falta de outros tempos. Porque é amor, mesmo que acabe; é sempre amor, mesmo que mude; é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou. 
Ele vai mudar, escolher um jeito novo de dizer alô. Vai ter medo de que um dia ela vá se mudar, que aprenda a esquecer sua velha paixão. Ele teme que ela comece a sair com outro cara, e se apaixone, e o abrace, sorria e faça rimas de amor, como fazia pra ele, só pra ele, sempre pra ele. Ela tem medo que ele encontre outra garota para mimar, que escolha outra data de aniversário de namoro, que sinta outros gostos, que experimente novas sensações, que apresente outra namorada à família. Mas ele evita ir até o telefone para conversar, pois é muito tarde pra ligar. Tem pensado nela, estava com saudades. 
Ela ouviu a música que ele gosta outro dia no rádio, leu a tirinha de jornal que tem o nome dele e viu uma xícara do Elvis numa galeria, coisa que ele adoraria ter, ele, que fazia aniversário junto com o Raul Seixas e tinha o conhecimento mais pop e variado que ela jamais vira. E ele se lembrou dela quando viu o programa da escritora que ela queria ser, quando viu nas vitrines do shopping as roupas que ela queria ter, quando olhou numa agência de turismo a viagem que ela sonhava fazer. Nunca é muito tarde para ligar, ele pensa nela, ela tem saudade. 
Mas ela ainda vai querer vê-lo bem sucedido e vai se lembrar, com muito carinho, da colação de grau em que chorou de alegria, da família dele que gosta um tanto dela e fez de tudo para deixá-la bem. Vai se lembrar do orgulho que ela sentiu ao vê-lo formado no baile, de como seu coração inchou-se todo de dançar a segunda valsa com ele, quando ele a pegou no colo e correu atrás dela para lhe mostrar uma música e a tirou para dançar diversas vezes, e como eles se divertiram e pularam e dançaram e brincaram e se abraçaram e tiraram fotos; e planejaram se casar depois de uns anos, e juraram ser para sempre. Porque é sempre amor, mesmo que acabe; é sempre amor, mesmo que mude; é sempre amor, mesmo que alguém esqueça o que passou."


Nathalia
autor desconhecido encontrado no meio de uma velha agenda. 

23 de janeiro de 2012

...

Escrever é esquecer. 
A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.


Nathalia
pelo saudoso Fernando Pessoa.

15 de janeiro de 2012

Minha Lua

Eu, estou ao seu lado, no mesmo compasso vendo a lua aparecer. Ela me disse que passou pra ver se era amor que nascia aqui. Posso morrer na sua boca e não me arrepender.
Entra minha Lua, senta que essa cama é sua... Hoje não termina a noite, tenho só mais um segredo pra te contar. Falei com o tempo pra não se apressar, não tem mais com o que se preocupar. Descansa tua alma na minha paz.

Me diz o nome desse beijo que me faz acreditar que eu sou feliz demais.
Não sei aonde eu me escondo quando esse dia nascer pra te roubar daqui.
Até o amanhecer eu vou escapar do medo de me ver tão só, apagar a luz e te fazer de cobertor.
Uma cidade inteira espera acordada pra te ver chegar. Eu mudo a rota só pra ficar no céu que eu pintei pra te dar. Volta, não te peço nada... Só mais uma noite pra te degustar. Escuta que essa lua branca vem com todos os meus segredos pra te contar, falei com o tempo pra não se apressar...



a te esperar. 

Nathalia
por Luiza Possi
Pensando na lua e no que ela faz lembrar.

13 de janeiro de 2012

Recomeço

Tudo na vida tem um recomeço. Tudo. 
E essa tal de vida é a melhor no quesito "surpreender" e a cada dia, com as surpresas que ganhamos desta, nos tornamos mais fortes e consequentemente mais nobres de espírito. 
Por trás de toda dificuldade, existe um aprendizado e para cada aprendizado, uma pitada de amadurecimento. Por trás de toda felicidade, existe um recordação e para cada recordação, uma saudade a ser eternizada e a sensação de missão cumprida. 
Enfim, é através de um recomeço que eu inicio este novo ano. Chegou a hora de recomeçar com a cabeça erguida em busca do melhor, o melhor dessa vida. 
Recomeçar um amor, uma amizade, uma história, um sentido, uma forma, um sonho, um objetivo, recomeçar e aproveitar todo o tempo que foi perdido em vão. 
Que este seja um ano incrível de começos e recomeços à todos nós! 


"Tudo estava igual como era antes, quase nada se modificou, acho que só eu mesmo mudei e voltei. Eu voltei! Agora pra ficar... Porque aqui, aqui é meu lugar. Eu voltei! Pr'as coisas que eu deixei, eu voltei!"


Nathalia
Voltando mais velha, mais sonhadora e mais feliz!